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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

30 de Agosto de 2010

Querido estranho,
Escrevo-lhe, pois sei que amanhã será um dia perdido. Mais um na lista de perdas.
Confesso, isso me alarma, é como se estivesse deixando minha vida esvair-se pelos dedos. E, por mais que as pessoas digam que sou jovem, sinto falta dos dias perdidos, como se eles fossem os últimos.
Sinto sono, mas não consigo dormir, as constantes perturbações, as quais dei, gentilmente, o nome de pensamentos, não me deixam em paz.
Admito, a culpa é minha.
Se não fosse tão teimosa já teria deixado de lado uma porção de coisas que me deixam perturbada. Não consigo, sou fraca.
Às coisas pelas quais me pergunto, me parecem longe de uma resposta. Respostas, não entendo essa necessidade de respostas, não entendo a necessidade de um ponto final.
Talvez eu não queira um ponto final. Talvez tudo o que eu queira sejam reticências.
Reticências, sim! Um fim sem aparência de fim, um despropósito propositado.
Reticências... Insira aqui toda a sua imaginação para aquilo que fica, ou não, pressuposto, para as possibilidades, para um fim inacabado. Não há necessidade de palavras, só... Reticências.
É estranho não é? Como existem palavras absurdamente detestáveis. Como as pessoas conseguem suportá-las? Dei-me conta de que as palavras também se mascaram, hora otimistas, hora pessimistas, palavras fajutas essas!
De todas elas a mais detestável é, sem dúvida alguma, “esperar”. Não, não detesto essa palavra pelo significado de ‘esperar tempo’, detesto quando pessoas a usam para dizer que esperam que algo aconteça como se fosse um desejo “espero que dê tudo certo”, sempre acharam que essa fosse a palavra mais pessimista do mundo! Se você espera que algo aconteça é porque já não tem muitas esperanças de que ela vá mesmo acontecer.
Saindo um pouco das minhas teorias sobre palavras...
Você reparou como andam os dias? Rápidos, alucinados, impessoais.
Ah! Querido estranho, as coisas infelizmente nunca serão como eram pra ser. Hoje ouvi o barulho da chuva tocando o chão. Um engano, uma ilusão.
Você já experimentou o barulho da chuva? Se não, deveria! É uma daquelas pequenas coisas que fazem bem à alma.
Infelizmente a chuva está longe, tão longe quanto as minhas ilusões.
Não consigo evitar de soltar um longo suspiro ao lembrar de todas elas, talvez esse seja um dos problemas que causam a minha incapacidade de fechar os olhos e dormir no momento. Paciência. Insônia.
Daqui três horas meu dia começa, querido estranho. Um dia perdido!
É estranho não é? Todas essas mudanças internas as quais somos submetidos.
Ontem foi domingo, amanhã será terça-feira, o que sou hoje? O que eu deveria ser?
Reticências...