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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Gota D’Água - Joana

Só agora há pouco, depois de tanto tempo acordados, finalmente os dois conseguiram adormecer. Depois de tanto susto, como por encanto, o rostinho deles voltou a ter não sei não… Parece que de repente, no sono, eles encontraram novamente a inocência que estavam pra perder. Olhando eles assim, sem sofrimento, imóveis, sorrindo até, flutuando, olhando eles assim, fiquei pensando:  podem acordar a qualquer momento. Se eles acordam, minha vida assim do jeito que ela está destrambelhada, sem pai, sem pão, a casa revirada, se eles acordam, vão olhar pra mim. Vão olhar pro mundo sem entender. Vão perder a infância, o sonho e o sorriso pro resto da vida… Ouçam, eu preciso de vocês e vocês vão compreender: duas crianças cresceram pra nada, pra levar bofetada pelo mundo, melhor é ficar num sono profundo com a inocência assim cristalizada.

Ninguém vai sambar na minha caveira. Vocês tão de prova: eu não sou mulher pra macho chegar e usar como quer, depois dizer tchau, deixando poeira e maleira na cama desmanchada. Mulher de malandro? Comigo, não. Não sou das que gozam co’a submissão. Eu sou de arrancar a força guardada cá dentro, toda a força do meu peito, pra fazer forte o homem que me ama. Assim, quando ele me levar pra cama, eu sei que quem me leva é um homem feito e foi assim que fiz Jasão um dia. Agora, não sei… Quero a vaidade de volta, minha tesão, minha vontade de viver, meu sono, minha alegria, quero tudo contado bem direito… Ah, putinha, ah, lambisgóia, ah, Creonte. Vocês não levaram meu homem fronte a fronte, coxa a coxa, peito a peito. Vocês me roubaram Jasão co’o brilho da estrela que cega e perturba a vida de quem vive na banda apodrecida do mundo… Mas tem volta, velho filho da mãe! Assim é que não vai ficar. Tá me ouvindo? Velho filho da puta! Você também, Jasão, vê se me escuta. Eu descubro um jeito de me vingar.

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